quarta-feira, 24 de novembro de 2010

UCG descobre fósseis no interior da Bahia

Durante mais de cinco anos uma equipe multidisciplinar de pesquisadores do Instituto do Trópico Subúmido, da Universidade Católica de Goiás, vem desenvolvendo uma série de projetos científicos no vale do Rio Corrente, afluente do São Francisco, no oeste da Bahia. São variados projetos que englobam estudos de etno-musicologia, hidrologia, botânica, genética, zoologia, arqueologia e paleontologia, dentre outros. Após estes anos, a equipe de Paleontologia e Arqueologia tem feito descobertas importantes, que muito podem acrescentar ao estudo do passado do Brasil, tanto no que se refere à flora e à fauna como ao povoamento humano.

De acordo com o professor doutor Altair Sales Barbosa, do ITS/UCG e que integra a equipe, as pesquisas na região recebem o incentivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), UCG e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Flora antiga
No povoado de Barriguda, município de Jaborandi, a equipe descobriu um enorme jazimento fossilífero com uma grande quantidade de fósseis vegetais, encontrados em estratigrafia diferenciada, oscilando entre aproximadamente 15 milhões de anos a 11 mil anos antes do presente. São fósseis de numerosas espécies vegetais, onde se destacam desde as calamitas, antigas tabocas, até samambaias e plantas recentes.

O jazimento foi se formando ao longo do tempo, desde o final do Terciário até a época recente, em função de um antigo desabamento do teto de uma grande caverna de calcário; esse acidente proporcionou a formação de uma dolina e mais tarde de um grande lago que, paulatinamente, foi sendo inundado por sedimentos e carbonato de cálcio, preservando fósseis vegetais de idades diferenciadas, ou seja, formados em estágios diferentes.

Há imensas grutas na região, algumas com rios e lagos subterrâneos. Na gruta do Padre, no município de Santana dos Brejos, chega a medir 54 km de extensão. Ainda hoje, há pequenos tremores de terra, que assustam os moradores locais e são causados por acomodações ou desabamentos de tetos de grutas antigas.

Fósseis animais
Os fósseis animais foram todos encontrados no interior de grutas calcáreas profundas; são animais de várias espécies que, no momento, estão sendo identificados.

O mais comum se assemelha com uma espécie de Cateto, que na realidade é um Tayasuidae, família à qual pertencem esses animais, mas difere dos catetos atuais, principalmente pela anatomia craniana.

Ocupação humanaOs elementos sobre a ocupação humana, de acordo com a equipe, espelham uma riqueza imensurável de material e informações, que vão desde imensos cemitérios, com urnas funerárias, a sítios arqueológicos de horticultores indígenas de pelo menos duas tradições, Aratu e Tupiguarani, e sítios arqueológicos de grupos caçadores e coletores, tanto sítios de exploração de matéria-prima e confecção de instrumentos, como sítios de habitação. "O interessante é que há sítios de habitação ao ar livre dessas populações de caçadores e coletores, o que significa que já conheciam a tecnologia de confecção de abrigos artificiais", destacou Altair Sales. Todos esses sítios têm abundante material lascado.

Há também vários abrigos com vestígios de ocupação humana, como cerâmica e material lítico na superfície e outros materiais nas camadas inferiores. Há ainda nas paredes dos abrigos variedade de pinturas rupestres, pertencentes à Tradição São Francisco.

Entretanto, a mais importante descoberta se refere a uma ponta de projétil (ponta de lança acanalada), semelhante às pontas antigas dos primeiros habitantes da América do Norte. A descoberta desta ponta, associada com raspadores (lesmas), reacende ainda mais as recentes discussões acerca da antigüidade do Homem na América do Sul. A professora Betty Meggers, juntamente com o arqueólogo americano, prof. Stanford, baseados em evidências fragmentadas destas pontas na América do Sul, já estão propondo, juntamente com a professora Niéde Guidón, a realização de um seminário, com vários especialistas, para discutir o assunto da antiguidade e as origens dos primeiros povoadores humanos da América do Sul.

A grande coincidência do fato, conforme relata Altair Sales, é que 15 dias antes de sair a campo havia recebido um e-mail do professora Betty Meggers, comentando o fato. Em resposta, afirmou que "há cinco anos estávamos estudando um local, onde desconfiávamos que, a qualquer momento, poderíamos descobrir as referidas pontas, fato que aconteceu no último trabalho realizado, entre dezembro e 15 de janeiro deste ano".

Anteriormente, como em Serranópolis, sudoeste de Goiás, por exemplo, "havíamos encontrado sinais da contemporaneidade de pontas com as lesmas (instrumentos lascados ou raspadores plano-convexos), mas as pontas eram protótipos feitos em arenito friável", disse. "A descoberta de uma ponta intacta acanalada e associada com as lesmas (instrumento de pedra-lascada) vem acrescentar um dado importante, até então ausente na Arqueologia Sulamericana", completou.



fonte: http://www2.ucg.br/flash/Flash2006/Janeiro06/060125its.html

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